sexta-feira, 21 de outubro de 2016

BANDA GUERRILHA DÁ SEU RECADO SOBRE TUDO NO PRIMEIRO PLAY!

·          ·


               A banda GUERRILHA acaba de lançar seu primeiro disco, mas já tem 10 anos nas costas e isso justifica a excelência em tudo que cerca esse lançamento, mas não se engane, não é uma banda de virtuoses e sim uma banda que tem culhões de sobra pra tocar o terror e não tem medo de falar sobre o que s der na cabeça sem se importarem com opiniões alheias (confira os tópicos políticos da entrevista á seguir) e tudo isso você poderá conferir nas linhas à seguir. 

TOCA DO SHARK: O release da banda GUERRILHA aponta que a banda está por aí há mais de uma década, mesmo este sendo o dèbút da banda. Vocês poderiam fazer um resumo da ópera pra gente?
Kbça: A Guerrilha surgiu na ZN de SP quando eu o Punk conseguimos nos reunir com outros dois guitarristas (Paulo e Rogério) e um baterista (Arthur) que quando estávamos decididos em formar uma banda passamos por uma rua e ouvimos alguém praticando bateria, tocamos a bateria e nos conhecemos e já marcamos de ensaiar e tudo mais. Mas antes disso, eu e o Punk já compúnhamos algumas músicas no violão, nós dois praticamente aprendemos a tocar juntos tocando violão na rua e aprendendo com revistinhas de música, internet e tudo mais... Mais tarde eu comprei uma guitarra e ele passou a aprender mais com o irmão (Anselmo – baixista dos INOCENTES) e usar o baixo dele. De lá pra cá trocamos vários integrantes sempre por necessidades de conciliarmos as necessidades da vida com o sonho da música, isso atrapalhou bastante a banda por um tempo, pois cada nova troca se reaprendiam as músicas e se readaptavam as ideias e estilo musical, por outro lado isso sempre trouxe muitas novidades e um repertório criativo novo que alimentaram as composições durante essa década. Já tocamos em inúmeras casas e também em vários festivais, dos lugares mais simples até as principais casas de São Paulo, a vida na música tem de tudo em cada momento. A formação atual tem em torno de dois anos com o Jimmi na guitarra e o Nicolas na bateria, ela foi formada na época em que estávamos em gravação do álbum. Antes deste álbum nós lançamos dois EPs que contém as primeiras versões de algumas músicas q estão nesse álbum. Apesar de ser um dèbút ele também acaba sendo um compilado de nossas melhores canções desses 10 anos, mas com as canções repaginadas e outras inéditas.
 
Nicolas (bt), Kbça (v), Punk (bx) e Jimmi (g)
(Foto de Vitor Miranda - VM Produções)
T.S.: Vemos na sonoridade que a banda não se prende a nenhum estilo ou rótulo. Mas também percebemos algumas influências daquele TITÃS da época do “Titanomaquia”, TIJUANA, PLANET HEMP etc... Falem de suas influências mais fortes.
Punk: Não nos prendemos a nenhum estilo, mas no início nossa maior influência era o RATM.
Kbça: Acho muito difícil definir ‘influências da banda’ acho que cada um aqui tem várias influências pessoais e algumas acabam sendo em comum entre nós. Realmente, por conta da sonoridade em algumas músicas que gostamos de um ‘funkeado’ e por conta da postura sonora e da linha de voz nos comparam muito com RATM. É uma das minhas bandas prediletas, mas eu me alimento de uma gama enorme de bandas de Rock de variados estilos dentro e fora do Rock, acho que todos aqui também. Eu gosto muito de ouvir e admirar cada banda em sua proposta e algumas me chamam mais atenção outras não. Isso que você falou do TITÃS pode ser mesmo verdade porque eu sou muito fã da banda pelo que ela produziu nos tempos áureos, assim como o Rock dos anos 90 de TIJUANA, PLANET HEMP, CHARLIE BROWN JR, RAIMUNDOS, etc... fizeram parte da minha formação também. Mas todas essas influências acabam se revelando nas nossas canções de forma bem inconsciente e natural, nós simplesmente fazemos a música do jeito que cada canção se apresenta na sua melhor sonoridade, não buscamos adaptar ou usar essas ou aquelas características que define um estilo. Somamos ideias e influências particulares e depois vemos no que deu.
Jimmi: Tive durante toda minha estrada como guitarrista, as influências que quase todos os guitarristas seguem: HENDRIX, ANGUS YOUNG, JIMMY PAGE... E até mesmo influência de guitarrista nacional que é o caso do KIKO LOUREIRO.  Hoje em dia sigo uma dinâmica baseada no som de três guitarristas: Gutrhie Govan (THE ARISTOCRATS), JASON BECKER que, na minha opinião, compôs obras incríveis provando ser o maior maestro da guitarra de todos os tempos e um garoto chamado DALIF ALIH, que grava vídeos no You Tube e tem a melodia mais expressiva que já vi em todos os anos de música, não muito técnico, mas de uma expressão incrível.
Nicolas: Além das bandas citadas tenho como influência LEGIÃO URBANA, FOO FIGHTERS e DEAD FISH Sem preconceito com estilo musical eu tento misturar do Rock mais calmo ao Rock mais pesado nas baterias.
 
(Foto Alê Fukugava)
T.S.: A banda demorou muito tempo pra lançar seu primeiro disco, muito mais do que o usual do novo século que, com tantas facilidades, muitas bandas não levam mais que dois anos pra lançarem seu primeiro álbum, outras já saem lançando sem nem ter tempo de estrada. Explique melhor a linha de trabalho do GUERRILHA.
Punk:  Demoramos muito sim, falta de grana e também optar por não fazer um lançamento meia boca. Acredito que veio na hora certa com o time certo e uma banda madura.
Kbça: Hoje em dia é verdade, ficou bem mais fácil fazer gravações de alta qualidade, mas a 10 anos atrás não era bem assim, você até gravava, como nós fizemos, mas não era em um nível profissional sem se gastar uma grana considerada. Nós não somos uma galera de classe-média alta que tinha vontade de ‘ficar famosinho’ como muitas bandas que surgiram nos anos 2000, nós tínhamos nossas ideias e vontade de conta-las, mas não tínhamos condição de bancar a nossa carreira da forma mais proveitosa possível, tínhamos ótimas canções e não queríamos queimá-las gravando de qualquer jeito - dentro do que era possível – só por gravar. Acho que agora o momento foi propício e tudo confluiu de forma a facilitar que fizéssemos nosso álbum com a sonoridade na melhor maneira possível que alcançamos, continuamos sem grana, mas agora as tecnologias, a cena, os espaços de divulgação e consumo da música tudo mudou e nos facilitou.

T.S.: As letras deixam bem claro que a banda não veio pra brincadeira nem pra ser a mais nova queridinha da mídia, visto que não tem papas na língua nem censura no que dizem, são conscientemente politizados e revoltados com a situação vergonhosa da nossa situação sócio política.
Punk: Sim.
Kbça: Isso é uma pergunta? rsrsrs
Jimmi: vergonha e pouco.
Nicolas: Você disse tudo.

T.S.: A canção ’13-JUN-13’ versa sobre as primeiras passeatas da era moderna, do povo contra o governo vigente. Em 2013 no começo das revoltas sociais os membros da banda estavam nas ruas também? Qual a opinião sincera de vocês sobre a ação dos Black-blocs na época?
Kbça: Eu estava mano. Acompanhei as manifestações organizadas pelo Passe-livre desde as primeiras, teve aquela que teve uma repressão absurda e que gerou toda a comoção que unida com a insatisfação geral levou a galera toda pra ruas depois. Inclusive o single da música ‘Guerrilha’ que abre nosso CD - a primeira música finalizada do álbum - e que foi lançada em 2014 com um clipe que tem as cenas dessas manifestações. Eu encontrei o Vitor Miranda – diretor do clipe – no meio da pancadaria do dia 13 de junho, já o conhecia e também o seu trabalho, então ali mesmo, meio que no sufoco, combinamos que iríamos usar as imagens que ele estava captando para um documentário, em um clipe da GUERRILHA. Ficou bem legal o resultado final, dá uma conferida! Quanto aos black-blocs eu acho as ações do Choque (polícia paulista) mil vezes pior em violência e destruição do que qualquer black-bloc.

T.S.: Vocês acham justo o povo agir pacificamente nos protestos enquanto a classe política/policial deste país praticamente estupra e violenta o povo diariamente, digo, quebrar uma vitrine de banco é errado quando o banco quebra uma família por hora nesse país desde sempre?

Punk:  É meio conflitante, às vezes eu não acho protesto se mostra com consciência e não com vandalismo, temos outras formas de quebrar o sistema sem despedaçar uma vidraça sequer, às vezes eu acho que tem que quebrar tudo mesmo, sei lá.
Jimmi: Eu sempre tive uma opinião muito particular nessa questão. Eu sempre achei que se você quer um ambiente justo, o primeiro passo começa pelo seu. Do que adianta cobrar uma política com leis e interesses mais justos, quando nós mesmos agimos de forma incorreta. Isso não faz muito sentido pra mim. Aprendi e cresci assim. E antes que começasse essa era terrível de ‘mimimi’, quando criança sempre que eu andasse "fora da lei dos meus pais" , tomava uma surra da porra!  Não que seja a forma correta, mas dentre surras, conselhos e boa educação, graças a meus pais, sei o quê não se deve e o que não deve cobrar.
Nicolas: Violência só trás violência, se nós agirmos com violência a determinada pessoa ou situação é como se estivéssemos nos rebaixando ao nível dos agressores.
Kbça: Cara eu quero mais é que se foda! Eu acho pouco o que os black-blocs fazem. Acaba sendo um ato muito mais simbólico contra o que as pessoas tomam por valor e poder na sociedade, quando se quebra uma vidraça de uma agencia bancária você não está arruinando um banco, na verdade nem afeta em nada. É uma ‘violência branca’, sem vítimas. Violência de verdade é a que mata as pessoas aos poucos e sufoca as oportunidades de vida por conta da má política, ou então as ações de extermínio e humilhação que a polícia promove nas periferias, isso sim tem que ser levado a sério. A mídia nossa é violenta, excludente e manipuladora faz uma narrativa horrorizada quando as coisas afetam a ela e sua classe e ignora ou distorce tudo quando a violência a ser mostrada é contra os pobres, se alguma pessoa fica mais indignada quando vê uma vidraça sendo quebrada do que quando vê policiais agredindo pessoas numa manifestação, então essa pessoa precisa rever seus conceitos, porque sua humanidade se esgotou.
 
(Foto Ale Fukugava)
T.S.: ‘Groove da Pesada’ tem aquele mix demonizado por muitos de PUNK/RAP na participação de Flip da ZERO REAL MARGINAL, mas sustenta a essência do Underground plantada na letra e atitude. Até que ponto vocês acham que o radicalismo sonoro de muitos prejudica a sustentação dos pilares de uma cena verdadeiramente Underground?
Kbça: Essa é uma pergunta complexa... Eu gosto da mistura quando ela é bem feita e flui natural e não de forma forçada só pra parecer ‘diferentão’ e chamar atenção como se isso por si só garantisse qualidade de algo. Eu vejo umas bandas soando esquisita, misturando umas coisas nada a ver, sem proposta só porque acham que o ‘esquisitóide’ é genial. Não acho assim, a musicalidade é que conta, não é fácil ser ZAPPA, TOM ZÉ ou RADIOHEAD. Mas em relação a essa postura de sectarizar os estilos é uma besteira, porque o que tem que estar em sintonia é a proposta da mensagem e não o ritmo, isso pode ser rearranjado o tempo todo, você pode cantar a mesma musica em qualquer rítmica. O diálogo é sempre positivo e traz frutos, um lado aprende com o outro e todos saem ganhando, ainda mais no Underground em que a cena depende justamente do engajamento dos artistas e público. O Flip nós chamamos porque já era nosso ‘brother’ de tempos de tocarmos juntos, agora ele tá fazendo Rap, mas já cantou muito Rock também, então foi algo bem natural de identificação no que passamos e dizemos em nossa música.


T.S.:A arte que embala o produto sonoro de vocês é outro ponto de destaque. Com um digipack verdadeiramente luxuoso com uma ilustração caótica e um encarte grande que se desdobra em uma espécie de pôster, dá pra ver que a banda investiu ($) pesado nisso. Falem mais sobre o contexto por trás da obra e o artista responsável por tal.
Kbça: Então, este é outro ponto que fizemos questão de ter um cuidado especial. Como eu disse, sabíamos que quando tivéssemos que lançar o álbum ele teria que ficar da melhor maneira possível. O Luís do estúdio Lanterna Mágica – que é o artista responsável pela ilustração do encarte – já conhecia e gostava muito das músicas da banda, ele mesmo já havia se oferecido para o trabalho. Então quando procurei o Luís, eu tinha a concepção da capa, mas não fazia ideia de como explicar as ideias a ponto de serem vislumbradas em imagem. Com muita paciência e talento o Luís soube captar a essência da coisa e surpreendeu demais com o resultado final, tínhamos um ótimo material de gravação, depois de uma década estávamos com um álbum gravado na melhor qualidade possível e com as canções muito bem feitas, então esse álbum merecia também o melhor material gráfico possível que o acompanhasse, mesmo nos apertando ao máximo, não poupamos nesse quesito.


T.S.: A banda aproveita bem a internet pra espalhar seu recado, estão em praticamente todas as plataformas, além do material físico. Isso é uma tendência natural da nova década, mas, muita gente não sabe trabalhar essas ferramentas, vejo pelas resenhas que faço, sempre aviso as bandas e assessorias responsáveis quando vai pro ar. Em poucas horas percebo quem trabalha mesmo, com o número de visualizações da matéria, crescendo ou não. Tem bandas que mesmo sem assessores explodem em visualizações em poucas horas após postada a matéria enquanto outras que tem assessorias e tal empacam em poucas visitas durante muitos meses seguintes. Eu quero saber como vocês trabalham todas essas plataformas pra espalharem suas mensagens, pois não é difícil, mas é uma questão de estratégia bem planejada.

Punk: Aos poucos estamos apendendo a trabalhar com a internet, mas a saga de ‘likes’, ‘views’ e todo esse "sucesso virtual" é demorado, mas estamos no caminho. Não temos uma equipe pra isso, é tudo programado entre nós mesmos e pau na máquina, tem muita coisa que rola com o antigo boca a boca, (através da internet) alguém vê uma matéria, vai procurar o som, curte e já indica pra alguma resenha, entrevista, show etc... e por aí vai.


T.S.: Pra finalizar deixem as mensagens finais aí e os canais de contato com a banda para conhecerem seus trabalhos e adquirirem seus materiais.
Kbça: Eu quero agradecer muito pelo espaço e pelas ótimas perguntas que nos deram oportunidade de expor um pouco mais sobre nós em assuntos que vão além apenas da música tocada, espero que tenha sido satisfatório pra vocês e pros leitores. Peço pra acompanharem a GUERRILHA pelo Facebook e pelo site e demais redes sociais. O novo está aí pelo Underground e tem muita coisa variada e de qualidade, saiam de suas casas pra ouvir música para além dos fones de ouvido!
Nicolas: Queria agradecer a todo pessoal que escuta o som, os parceiros e a própria banda por estar me dando essa oportunidade de poder acompanhar eles nessa jornada.
Todos: FORA TEMER!!
 
(Foto Vinicius Gusman)
GUERRILHA: Kbça – voz, Jimmi – guitarra,  Punk – baixo, Nicolas - bateria

BANDA: GUERRILHA
DISCO: “Sangue, Lágrima e Suor”
ANO: (2016)
SELO: Independente (http://www.bandaguerrilha.com.br/ )
FAIXAS:
1.  Guerrilha
2.  A Culpa é de Vocês
3.  Tráfico de Influências
4.  Fora do Eixo
5.  Groove da Pesada
6.  Vida de Cão
7.  13 – JUN – 13
8.  Receba e Processe
9.  Rota de Fuga
10.      Falsos Valores
11.      Hein!?
12.      Lembranças
  No começo dos anos 2000 surgiu uma tendência (eu achava que era modinha mesmo) que as bandas não queriam ter rótulos, não queriam admitir um estilo próprio e ficavam atirando pra todo lado fazendo aquelas misturebas chatas e sem sentido, era a época das ‘no rotulation’, pois bem, ótimo que aquilo passou rápido, as bandas eram horríveis ou, no mínimo, chatas. Agora me cai nas mãos um disco de uma banda, que, pelo meus cálculos, surgiu em seguida a essa geração perdida e traz um disco que mostra não pertencer a nenhuma rotulação específica, mas ouvindo seu disco como um todo percebemos que não é aquele tipo de situação, eles sabem o que querem de verdade e é experimentar, é criar o som característico deles. O bagulho não é desprovido de personalidade como aquele que citei antes, o que a GUERRILHA faz é encharcado de personalidade e opinião própria, o que me deixou impressionado sim.
  Eu percebo aqui e acolá uma pitada de anos 2000 sim, um pouco daquele TIJUANA mais porra-louca, daquele TITÃS da fase “Titanomaquia”, dum PLANET HEMP sem falar sobre maconha e por aí vai.
  As letras são um capítulo à parte, daqui há 20 anos poderiam ser citadas em livros de história para ilustrar a situação que o Brasil vivia nos dias de hoje. A banda não é Punk, mas bem que poderia ser, tanto que transita com certa liberdade na cena, tendo dividido os palcos com várias bandas de peso e nome da cena Punk tradicional.
  A arte visual então, nem se fala, investiram pesado na obra que embala seu som. Um digipack que podemos chamar sim de ‘luxo’, com um encarte que se desdobra numa espécie de pôster, totalmente trabalhado á mão, com todas as informações e letras que é necessário numa obra completa, valorizo muito isso.
  Você deve estar achando essa resenha até maçante de tantos elogios que estou proferindo, mas fazer o quê? Os caras são bons mesmo no que se propuseram a fazer!
  Só espero que essa banda não se perca pelo caminho, sem fique como ‘nota de rodapé’ na estória do nosso ROCK, que eles cresçam e evoluam na carreira, se tornando um dos pilares do som futuro do Underground brasileiro, pois de bandas boas que ficam em um só lançamento, minhas prateleiras estão cheias.
https://soundcloud.com/bandaguerrilha

Agora você poderá ganhar o CD dos caras, curtindo a página da Toca do Shark no Facebook, divulgando na sua timeline o link da entrevista com eles e clicando aqui em Sorteie.Me (https://www.facebook.com/toca.do.shark/?sk=app_154246121296652&app_data=%https://www.facebook.com/toca.do.shark/?sk=app_154246121296652&app_data=%7B%22id%22%3A595130%7D)
BOA SORTE!

Nenhum comentário:

Postar um comentário