quinta-feira, 25 de setembro de 2014

HICSOS - "Circle of Violence" (2013)


HICSOS
Disco: Circle of Violence
Ano: 2013
Selo: Laser Company
Faixas:
1.       Can’t Hang Terror
2.       What You Reap
3.       Now You’re Dead
4.       Mirror Eyes
5.       Destruction
6.       Needles
7.       Burn in Hell
8.       Black Rain
9.       Horrospital
10.   Money Becomes God
11.   Prison Without Walls
Bonus Track: Angel Ripped

  O HICSOS é uma instituição carioca do Thrash Metal. Com mais de 20 anos de trajetória, a banda coleciona shows pela Europa, show no Brasil todo ao lado de grandes nomes da cena nacional e internacional, 3 demos e mais 3 álbuns full lenght sendo esse “Circle of Violence” o mais recente lançado no final de 2013.
  Mixado e masterizado pelas mágicas mãos de Heros e Pompeu (KORZUS) do Mr. Sound Studios (SP), esse disco da banda destila um Thrashão sem delongas, mas muito técnico, coisa de quem manja mesmo do assunto e os temas são dos mais propícios. 

Manipulação de massas através da religião, transformando a fé dos incautos em dinheiro (‘Money Becomes God’), o descaso dos nossos governantes para com a população mais carente (‘Horrospital’), situações apocalípticas e desesperadoras vistas todos os dias mas nunca levadas à sério por quem deveria (‘Prison Without Walls’, ‘Burn in Hell’) e por aí vai.
A bateria de Marcello Ledd é mais do que corretíssima, é um primor (vide a faixa de abertura ‘Can’t Hang Terror’). O vocal de Marco Anvito também não decepciona nenhum fã do estilo (por vezes lembrando um pouco o eterno Cronos do VENOM). As guitarras de Celso Rossatto e Antonio Saba são de extremo bom gosto, gêmeas e afiadas e as linhas certeiras do baixo de Marco (veja 'Now You're Dead') completam o pacote.
  Em suma, este é um disco que deve figurar nas coleções dos amantes do Thrash Metal Brasileiro.

  Mais infos você pode conferir em www.hicsos.com.br onde também pode se ter uma ideia dos sons desse álbum antes de comprá-lo via Die Hard Records (http://www.diehard.com.br/lojaweb/detalhes.asp?codprod=29982)
Celso Rossatto (g), Marco Anvito (b/v), Antonio Saba (g), Marcello Ledd (bt)

domingo, 7 de setembro de 2014

TITÃS - "Nheengatu" o disco que veio pra ir à forra na indústria do Rock comercial!


Banda: TITÃS
Disco: “Nheengatu”
Ano: 2014
Selo: Som Livre
FAIXAS:
1.   Fardado/
2.   Mensageiro da Desgraça/
3.   República dos Bananas/
4.   Fala, Renata/
5.   Cadáver Sobre Cadáver/
6.   Canalha/
7.   Pedofilia/
8.   Chegada ao Brasil (Terra à Vista)/
9.   Eu me Sinto Bem/
10.       Flores pra Ela/
11.       Não Pode/
12.       Senhor/
13.       Baião de Dois/
14.       Quem são os Animais?/

  Fazia no mínimo uma década e meia que os TITÃS não apresentavam algo descente no campo do velho Rock que eles não praticavam desde o meio da década de 90. Eles se tornaram uma banda chinfrim e comercial até o osso, totalmente desacreditada pelos seus velhos fãs até que no final de 2011 foi anunciado que eles iriam fazer uma turnê comemorativa tocando o mítico disco “Cabeça Dinossauro” na íntegra nos shows que hoje em dia seriam capitaneados pelos 4 remanescentes dos áureos tempos, Branco Mello, Sérgio Britto, Paulo Miklos e Tony Bellotto, o que nos rendeu uma descrença afinal como fariam isso em 4 se a banda desde o “Acústico MTV” de 1996 estavam cercados de agregados e músicos contratados? Mas ele foram os 4 pro palco com somente a presença do baterista Mario Fabre pois até o Charles Gavin já tinha pulado do barco. Pois bem, veio o ano de 2012 e eles provaram por A+B que seguravam bem a bronca sozinhos e que ainda sabiam fazer ROCK AND ROLL pesado e ofensivo. Isso deve ter despertado dentro deles a vontade de fazer de novo um belo disco com temas controversos e ofensivos com muito peso, aliado aos manifestos do ano passado onde a população brasileira (mesmo que por impulso ou manipulação) deixou bem claro que não aguentavam mais os abusos impostos de cima pra baixo na sociedade doente em que vivemos há décadas.
Branco Mello, Sérgio Britto, Paulo Miklos e Tony Bellotto

  Eis que saiu este ano um discáço chamado “Nheengatu” que na linguagem indígena significa ‘Língua Geral’ ou seja, fala pra todos os povos e é essa a intenção dos 4 titãs pois assim como os clássicos discos “Cabeça Dinossauro”, “Jesus Não Tem Dentes...” e “Titanomaquia” (guardadas as devidas proporções) a banda aborda inúmeros temos que expressam os males da sociedade brasileira atual que são a política, vida-e-morte, corrupção, abusos de poder, drogas, consumismo, enfim, as mesmas de sempre, mas logo na primeira faixa que virou clipe e carro chefe desse play eles já metem o pé na porta, a faixa em questão é ‘Fardado’ onde eles deixam bem claro o lado abusivo e autoritário dos PM’s pra cima do povo brasileiro, uma coisa que ficou bem explícita ano passado nas manifestações de rua e esse ano durante a mal fadada Copa do Mundo que sediamos. Há quem diga que é puro oportunismo da banda abordar esse tema justo agora, mas mesmo que seja é uma atitude beeeeem louvável, pois digamos que eles foram a única personalidade musical do mainstream que deu a cara à tapa e peitou a sociedade, a mídia e o braço forte da lei nacional, haja visto que mais ninguém tomou partido do povo entre os famosos, o que seria bem diferente se fossem nas décadas de chumbo quente. Ponto pra eles que ainda seguiram adiante no disco tratando dos males da epidemia do Crack enraizado na sociedade moderna em ‘Mensageiro da Desgraça’, outra porrada na boca do poder público que insiste em varrer pra debaixo do tapete esse problema de saúde pública.


  Em ‘República dos Bananas’ e ‘Fala, Renata’ a banda escancara a face da juventude moderna, morta e manipulada, diferente da deles 30 anos atrás que se mexiam para mudar algo, mesmo que em nada desse.
 Na faixa 5, ‘Cadáver sobre Cadáver’ aparece a velha parceria de Paulo Miklos com o eterno titã Arnaldo Antunes com uma letra forte que discorre sobre a única certeza que temos na vida, a Morte. Outro grande compositor aparece na faixa seguinte, Walter Franco que gravou e escreveu ‘Canalha’ em 1980 que aqui aparece numa versão melancólica na voz de Branco Mello e com um refrão pesado. Vale lembrar que o CAMISA DE VÊNUS já havia feito uma bela versão Rock dela em 1987 no álbum “Duplo Sentido”.
  Em ‘Pedofilia’ a banda trata desse crime hediondo que o nome da faixa entrega numa letra que chega a ser nojenta e foi feita exatamente com essa intenção, de explicitar o quão nojento são os praticantes dessa horrenda atitude. Aqui abro um parêntese pra deixar bem claro os trabalhos das guitarras capitaneadas pelo já famoso Tony Bellotto agora amparado pelo vocalista e (ex?) saxofonista da banda Paulo Miklos (antes a outra guitarra era do Marcelo Fromer que morreu em 2001) em linhas pesadas que foram ladeadas pelo baixão agora tocado por Branco Mello (após a saída de Nando Reis quem tocou as quatro cordas até a turnê de “Cabeça Dinossauro” em 2011 foi Lee Marcucci, ex-TUTTI FRUTTI e RÁDIO TAXI).

  Branco volta a cantar na faixa ‘Chegada ao Brasil (Terra à Vista)’, outra faixa amplamente divulgada pela banda nos shows que fala justamente sobre da chegada dos portugueses às nossas terras com umas partes de trava-língua permeando a letra.
  ‘Eu me Sinto Bem’ deixa escapar aí uma crítica velada ao consumismo desenfreado dos dias modernos. Já ‘Flores pra Ela’ tem um belo trabalho de Mário Fabre tanto na bateria quanto na letra que ele dividiu com Sérgio Britto que canta sobre o machismo e abuso contra as mulheres.  Aqui meio que fica claro a posição de Mário dentro do time, que já está mais do que efetivado atrás dos tambores, muito merecido, basta ver os shows da banda com ele. Apesar do fato dele aparecer no encarte como ‘Músico convidado’, ele também tem o direito de fazer seus agradecimentos.
  Os TITÃS sempre foram uma banda ambígua. Não só nesse caso, mas no fato de lançarem um disco tão anarquista e contra tudo na maior das capitalistas e manipuladoras das gravadoras nacionais, a Som Livre e ainda irem nos programas da TV Globo apresentar temas como ‘Fardado’, não sei se devemos condená-los de hipócritas ou de lhes dar os parabéns pelo fato deles furarem os bloqueios impostos. Vale uma boas reflexões da nossa parte.
  A capa e as gravuras do encarte são todas do século XVI de autoria do artista Pieter Bruegel acerca da Torre de Babel e O Massacre dos Inocentes entre outros temas. Lembrando que o disco, além do CD digipack tem uma versão luxuosa em vinil duplo.
  Em ‘Não Pode’ a bateria também se destaca e a letra trata do abuso de proibições descartáveis de hoje em dia. Já ‘Senhor’ fala da situação hipócrita e financeira em que as religiões estão afundadas.
  A ambiguidade volta a ser tratada na letra que Paulo Miklos escreveu e cantou em ‘Baião de Dois’, aliás, uma belíssima letra, com direito à poesia, jogo de palavras e expressões de baixo calão típicas do povo em desordem. Brilhante!

  Na última faixa, ‘Quem são os Animais’ eles ainda tem tempo de provar que sabem fazer letras contundentes e atemporais, coisas que acontecem a toda hora mas ninguém fala sobre. Quer um exemplo? Fique com esse refrãozinho:
“...Te insultam e te condenam a penar
Te julgam pela roupa que vestes
Te humilham e não te deixam falar...
Te chamam de viado, de sujo, de incapaz
Te chamam de macaco – quem são os animais?..”
  Realmente eles voltaram pra se imporem nessa cena bunda-mole que o Rock comercial vive nos tempos atuais. E quer saber? Eles estão conseguindo...


  Se lhes restam dúvidas ouçam o disco na íntegra no Youtube oficial da banda antes de investir seus trocos nele: http://www.youtube.com/playlist?list=PLiTi2JREVP5Ya1HmaQNevRS1ensdDuJZk